Pensava que já tinha feito tudo sozinha neste cantinho/ I thought I had done everything on my own in this little corner

~ENGLISH BELOW~


Pensava que já tinha feito tudo sozinha neste cantinho

mas não tinha ainda cortado o meu próprio pescoço aos pedacinhos 

(dei uma chance ao menino, mas coitadinho no final, fugiu, aquilo era demais, ela é louca)

Mas agora, AGORA, Ganhei o cerco, a guerra, a última batalha

Saquei duma navalha e Zás Trás Pás

Cortei-Me a garganta da esquerda pra a direita

que sempre dá mais jeito

e deixei-me ali estar alagada de mim

o SanguE às golfadas escorrendo pelos

seios mornos

a cintura esguia ainda, mais ainda

sou uma obra de arte

(és uma obra de arte meu Deus!)

sou uma obra de arte que se auto mutila

em nome dum laço de arame farpado

que nos une

nos fiapos de um esgar.

Levanto-me, lambo as feridas,

nado meticulosamente por entre o mar vermelho

que me separa de mim

mas que acima de tudo

me separa

E enquanto para mim olho

de lágrimas em rio,

rio

e rio de nada.

Do quê?... Rio,

como uma criança apaixonada pela primeira boneca

rio e choro ao mesmo tempo.  

Há muito que estava na amurada, de pé, só, de dentes arreganhados

(que afinal sempre há que sorrir para a foto)

e estive sempre de pé, só

e aqui me levo, em pé, e só.

De garganta cortada

e só

(e porque não resisto

"de pé, como as árvores"!)

Agora, Engulam-me se Puderem.

e se algum de vocês se atrever a dizer que não sou capaz de fazer isto

ou aquilo

sozinha

venham mais perto, eu mostrar-vos-ei a menina serpente que ergue a cabeça

cortada

na base

na mão direita

e que sem nada, nem um beijo, nem um trejeito meio brejeiro, 

vos espera

de pé. E Sozinha.

(até lá, Não caias menino, segura-te à barra da saia da mamã.)

Na outra mão, ainda seguro a navalha.

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I thought I had already done everything on my own in this little corner

but I hadn't yet cut my own neck into pieces

(I gave the boy a chance, but poor thing in the end, he ran away, it was too much, she's crazy)

But now, NOW, I have won the siege, the war, the last battle

I took out a knife and Zás Trás Pás

I cut my throat from left to right,

much easier after all,

and I left myself there, to be overwhelmed with myself,

the blood in spurts running down the

warm breasts,

the slender waist even more.

I am a work of art

(You're a work of art, my God!)

I am a work of art that mutilates itself

in the name of a noose of barbed wire

that unites us

in the wisps of a grimace.

I get up, lick my wounds,

I swim meticulously through the Red Sea

that separates me from myself,

but above all

separates me.

And while I look

when tears meet a river,

I laugh

and laugh at nothing.

At what?... I laugh,

like a child in love with their first doll,

I laugh and cry at the same time.

I had been on the railing for a long time, standing on my own, with my teeth bared.

(after all, you always have to smile for the photograph)

and I was always standing alone

and here I am, standing, and alone.

Throat cut

and alone

(and because I can't resist

"standing up, like trees"!)

Now, Swallow Me If You Can.

and if any of you dare to say that I can't do this

or that

on my own

come closer, I will show you the serpent girl who raises her head

cut

at the base

in the right hand,

and that without anything, not a kiss, not even a slightly rude manner,

awaits you

standing. On her own.

(Until then, don't fall boy, hold on to Mommy's skirt.)

In my other hand, I still hold the razor.

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