~ENGLISH BELOW~
Aceito os beijos mil, doces, leves, tão ao de leve que mal parecem beijos
dir-se-ía bicadinhas de passarinho, mas com lábios e penas, um ser de
tal modo fantástico que cada beijo é um passarinho fazendo o ninho
numa árvore que vive pelo prazer de escapar à morte.
Aceito os beijos que vêm no vento meio frio de Abril, feitos
das sementes que me ofereces de manhã, às escondidas.
Tenho uma grande dor no meu peito.
Quero os mágicos beijos que me dá
este pássaro do Sul que há muito desistiu de migrar
e que se senta comigo na beira do rio
de mãos dadas, Lídia, Lídia entre penas, de mãos dadas.
Acho que a mãe do meu tio se chamava Lídia. Da outra,
sabem bem.
Beija-me Lídia, com um sorriso de gaivota espaivecida.
Ela e eu, perdidas na loucura de beijos de ornitologia com lábios
tão doces que parecem os da minha filha
ou os meus
nos meus sonhos e nos teus.
Vou ficar aqui sentada, de mãos dadas, na beira do rio
Lídia, e contigo vou ver o rio passar e vamos estar
sempre
de mãos dadas Lídia, para que a vida passe e veja como estamos de mãos enlaçadas
e os nossos beijos são larvas de estrelas.
Lídia, aliás, Susana, a gaivota arraçada de pombo que gosta de música
do Duo Rocha Gândara e que vive à beira de um lago quase gelado
aqui, na beiradinha do meu quintal. Tenho uma dor imensa no peito.
Lídia, dêmos as mãos.
~ENGLISH~
I accept the thousand kisses, sweet, light, so light that they barely feel like kisses
one would say bird pecks, but with lips and feathers, such a fantastic being
that in each and every kiss it offers there is a bird building its nest
in a tree that lives for the pleasure of escaping death.
I accept the kisses felt in the slightly cold April wind, made
of the seeds that you offer me in the morning, in secret.
I have a BIG pain in my chest.
I accept the magic kisses the ones you give me
my bird from the South that long ago gave up on migrating
and who sits with me on the riverbank
holding hands, Lídia, Lídia holding hands through feathers.
I think my uncle's mother was called Lídia. The other Lídia,
you should know well.
Kiss me Lídia, with a smile like a distraught seagull.
She and I, lost in the madness of ornithology kisses with lips
so sweet they look like my daughter's
or mine
in my dreams and in yours.
I'm going to sit here, hand in hand, on the riverbank
Lídia, and with you I will watch the river pass and we will be
ever
holding hands Lídia, so that life passes by and see how we are holding hands
and our kisses are star larvae.
Lídia, alias Susana, the pigeon-seagull mix who likes music
of Duo Rocha Gândara and who lives on the edge of an almost frozen lake
here, on the edge of my backyard. I have an immense pain in my chest.
Lidia, let's join hands.
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