à minha frente abre-se o tempo que há-de vir.

já cairam as paredes, o chão, o teu cheiro já se foi com as águas

que escorreram da nossa cama desde há oitenta e sete dias.

já não há ondas nem poças onde tropeçar.

à minha frente abre-se o tempo que há-de vir.

pensava que podia erguer alguma das paredes

mas não me deste nem um tijolo

só raios e trovões que martirizam o fim.

deixo-te ir com a maré, enquanto de longe

te atiro uma corda, na esperança de que te enforques

e de que a tua morte traga finalmente o fim dos

tempos

e a floresta nasça, e eu árvore sem memória

nem mágoa de alguma vez teres fugido

tu que foste o meu mais glorioso sonho

quando nem a dormir eu dormia sonhando

que era no teu colo que a minha cabeça caia.

Cairam as grades, os gritos, as certezas e 

os olhos tranquilos repousam no fim do mar

de onde te vejo a afogar as lágrimas que de herança

te ficaram.

As árvores nuas e rijas sorriem 

E dos meus braços já nascem folhas e galhos

Verdes sadios e cheira a terra molhada pela montanha

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