I. Em Casa
Ontem dancei nos braços de quem não sabe onde revoluteia
um homem negro
dançarino de outras danças e tempos
uma voz que não queria
Queria apenas o corpo meio quente
as pernas entre as minhas e não me enganar no ritmo
ou enganar-me e rir
mas não
não queria cair nem ficar presa nas pernas curtas e torneadas
de quem não sabia nada de mim
filha de ti
se te tivesse esquecido poderias ser talvez tu ali
mas não
era apenas outro homem que eu igualmente desconhecia
e dancei
a música de uma terra meio mulata a que pertenço de direito e alma
quero viver naquelas batidas
afogar-me na terra e na fome que me persegue sem que eu sinta dor na barriga
Em Lisboa
dancei
uma, duas horas talvez
uma, duas músicas talvez
apenas um homem negro de óculos grossos e um sorriso de loucura varrida
me poderia ter agarrado sem ter medo da minha vida
e depois o espanto
era outro
os óculos finos
as lentes finas
a camisa justa e branca
quase sem um sorriso
apenas um tom para dançar
Sim.
Quase que não ouço porque ele nada diz.
E danço.
Mal.
Tropeço.
Quase que não consigo sorrir.
Não sei dos pés.
Procuro-te as pernas mas as tuas pernas dançam longe das minhas ancas.
Não há como seguir-te
E mudas de tom.
Dizes
Espera.
E eu ouço.
Espero.
Colaste as tuas pernas às minhas.
As mãos suadas não sabem se apertam ou se fogem dos dedos azuis que brilham
Na ponta
Colaste as tuas pernas às minhas e é o respirar mais lento agora
as pernas apressadas mas certas
não há embates
Há apenas os pés no chão
Era preciso ter os pés no chão
E quando te sorri
foi para te agradecer o teres ficado ali
E quando sorri
foi para me desculpar de não ser tão tua assim
A minha terra não é aqui
o meu pai fugiu para muito longe e eu perdi-me por aqui
não estou tão pouco em ti.
Dancei comigo ontem à noite e sorri durante horas para a escuridão das paredes e dos meninos abandonados.
Ontem dancei nos braços de quem não sabe onde revoluteia
um homem negro
dançarino de outras danças e tempos
uma voz que não queria
Queria apenas o corpo meio quente
as pernas entre as minhas e não me enganar no ritmo
ou enganar-me e rir
mas não
não queria cair nem ficar presa nas pernas curtas e torneadas
de quem não sabia nada de mim
filha de ti
se te tivesse esquecido poderias ser talvez tu ali
mas não
era apenas outro homem que eu igualmente desconhecia
e dancei
a música de uma terra meio mulata a que pertenço de direito e alma
quero viver naquelas batidas
afogar-me na terra e na fome que me persegue sem que eu sinta dor na barriga
Em Lisboa
dancei
uma, duas horas talvez
uma, duas músicas talvez
apenas um homem negro de óculos grossos e um sorriso de loucura varrida
me poderia ter agarrado sem ter medo da minha vida
e depois o espanto
era outro
os óculos finos
as lentes finas
a camisa justa e branca
quase sem um sorriso
apenas um tom para dançar
Sim.
Quase que não ouço porque ele nada diz.
E danço.
Mal.
Tropeço.
Quase que não consigo sorrir.
Não sei dos pés.
Procuro-te as pernas mas as tuas pernas dançam longe das minhas ancas.
Não há como seguir-te
E mudas de tom.
Dizes
Espera.
E eu ouço.
Espero.
Colaste as tuas pernas às minhas.
As mãos suadas não sabem se apertam ou se fogem dos dedos azuis que brilham
Na ponta
Colaste as tuas pernas às minhas e é o respirar mais lento agora
as pernas apressadas mas certas
não há embates
Há apenas os pés no chão
Era preciso ter os pés no chão
E quando te sorri
foi para te agradecer o teres ficado ali
E quando sorri
foi para me desculpar de não ser tão tua assim
A minha terra não é aqui
o meu pai fugiu para muito longe e eu perdi-me por aqui
não estou tão pouco em ti.
Dancei comigo ontem à noite e sorri durante horas para a escuridão das paredes e dos meninos abandonados.
Gosto.
ReplyDeleteGostava de mais.
ha sempre mais..so que as vezes leva muito tempo a ouvir-se...obrigada!
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