Redondas sentamo-nos à beira do mar e deixamo-nos
ser areia só para que depois de já ter termos sido
rochas
se encontre a paz que se estende no areal eterno
lambido pela língua salgada da mar
(cansei-me da presença sempre dura do
masculino pronome)
Não se passe muito tempo junto aos homens
que comuns e incomuns que sejam carregam
em si
a certeza de que somos languidamente feitas
para que por eles nos deixemos lamber
Venha a mar
havemos de passar a eternidade para lá das areias
pois que, após passe o tempo, delas seremos senão cuidar
nos cuidarmos
e cuidamo-nos ramos e supostos amos,
nós, de nó cego rendido ao descuido das horas
somos ora orcas, e erguemo-nos do
alto do que possais alcançar sempre
serenas eternas atentas umas
às
outras
sem receios de que se erga o dia e se faça luz;
como sempre se esperou para além da cruz
que se há-de estatelar, porque para tanto se pregar
um homem a uma cruz
quando quantos outros mais não seriam seus iguais?!
Entre o rio que se me recorre ao pensar
senta-se um leve borboletear que cora
quase chora, na verdade
enquanto no rosto se ruboriza o fim do
pecado mortal
de homem se talhar
por engano falo erguido
ufano farfalhar
das coisas que não são
desde sempre,
e nós, feitas longas noites fontes de luar
quando tão fraco era deles o marejar
que só por mortas éramos esquissas
más mães, quase adormecidas.
Hoje
só repito
deixai-nos ser a mar,
e em nós vos podereis deitar.
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