... e as mulheres levitam ao alcance das suas próprias mãos.

 de branco e preto e de vermelho também e preto

os meus dedos esborratam qualquer coisa na tinta

azul da caneta

ainda tenho canetas, faço questão de ter canetas

com que não escrevo que se cria um mundo onde as paredes são lisas e malva 

e as mulheres passeiam-se 

rasando seus corpos de mulheres que se sabem

mulheres 

de preto e vermelho e sobretudo preto

de enormes saias onde escondem litros de azeite

que se contrabandeava para Espanha

enquanto os filhos inúmeros inúmeros filhos

saltam e gritam e pedem pão e água

e o azeite tilintando por debaixo da saia

preta tão rodada que lá caberiam seus inúmeros

filhos

protegidos filhos da fome por debaixo das suas

saias

que saracoteavam filhos e arrastavam litros

inúmeros litros de azeite para Espanha

E quem desconfiaria da maternidade pesada

e mulheril que se arvorava sem ramos nem

gritos mas apenas pequenas brilhantes

arredondadas azeitonas esmagadas a pilão

mais pilão mais pilão, eras tu, Molinera?

Morre Manolo, mas eu não.


Escrevo que se cria um mundo onde as paredes

são lisas e malva

e as mulheres levitam 

ao alcance das suas próprias mãos.

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