Há Três Espécies de Homens...


Há três espécies de homens:

os vivos, os mortos e os que dizem me amar

feitos de tristezas tais que guerras não lhes

abate a alma

São tristezas escuras que em mim se refletem luz

      até que as pontes caem e os céus se agoniam

de nevoeiros frios em portos onde nunca atraquei

e nem nada de mim se viu

São velhos fortes, meninos de pernas

arqueadas e homens que perderam o 

tino, todos eles me amam muito e murchos

de doer as pétalas dos malmequer

para sempre me amam miando nas dobras dos lençóis

e nas suas pernas ausentes

por meus pequenos presentes, que agora

são versos de ignomínia.

Eles foram me dando tanta cinzenta agonia

tanta pedra pequena e tantos soluços em súplica

que já não canto nem gorjeio nem rouxinol

me vejo em nenhuma terra no porvir.

Essa terceira espécie de homens que

em pérolas no oceano me catam

também de minha carne acesa as cores

destratam e rejubilam, 

tanto e com cuidados tão poucos

que esquecem que caída não tropeço

em estrada de felizes resquícios 

mas inauguro-me eterna garimpeira do amor 


Assim enterro mais um corpo,

morto-vivo, e brindo às virtudes da dor.

Eterna viúva me consagro

e a vós convido a meu dossel rasgado

carrossel de carne viva

mas desses homens

nem ardor nem amador.

Não mais.


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