A PORTA






A porta nunca mais se fechará.

Nunca mais haverá portas para que as feches.

Destróis todas as portas como quem destrói

a própria casa já ferida e tombada

de outras porradas nas mesmas portas.

E abres as portas para sempre.

Como trancarás as portas se a todas quebras?

Como baterás à porta que já não há

como quem já não és quem eras?

Ou não queres bater, e nem fechar

e só meter dentro todas as portas

para que todos os caminhos se te abram

sem via sacra?


Destruo as portas

porque sou como a força sem vento nem moinho

destruo as portas para que meus dedos não estrilhassem

puxadores e nem chaves hajam que me impeçam de passar

pelo meu caminho.

Meto as portas adentro das paredes

e adentro as paredes meterei

eu, 

Deus da minha casa meto os pés

a todas as portas para que nunca

se ache o caminho que da porta desponta,

para que nunca da porta se veja o rio onde nadas.

E porque

sem porta não verei quem me espreita pela ombreira

sem porta não haverá frio que não trema nem calor que não queime

sem porta tudo será aberto como tem de ser

e sem porta seguirei até ao fim do ser,

sem correntes de ar

que, de repente, talvez te trouxessem uma pneumonia.

Cuida-te,

e nunca,

nunca te ponhas atrás da porta

não importas tanto assim... 






Comments