à memória da minha tia Diana e do Carlos Durães

Primeiro a minha tia Diana, que finalmente

é livre de caçar

Segundo o meu padrasto, finalmente

livre de voar

Terceiro eu, 

para quem ainda se não abre a floresta 

e nem o espaço se estende às minhas asas.

Aqui fico chorando com poucas lágrimas a 

Sua eterna ausência

porque com lágrimas a mais talvez os afogue nelas.

Finalmente livres de respirar

não precisam do ar que corta o dia em mortes infindas

Finalmente livres de me acarinhar

não precisam dos meus poemas para me abraçar

E sentada na beira do sofá

com o coração quase a despencar

pernas abaixo

guardo delicadamente a doçura do sotaque português

da minha tia e

seguro o débil dedilhar dos dedos do meu padrasto

"eu não me esqueço de ti"

Esqueço-me das dores, dos porquinhos, e dos vidros quebrados

onde me não podia sentar;

fica só a primeira de todas as violetas

que me ofereceu 

sempiterna na beirada da janela.

Deus os tenha e que eles me tenham a mim

tanto quanto.

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