POESIA: de cristal



construí de próprio punho a abóboda do meu

ser

de cristal, tão delicado ouvinte, tão requintado

sabor e tão profundamente quebrado por natureza anunciada já

e nem um só pau de aço ou ecos de motos perpétuos

na história de tão virtuosamente partida, a minha abódoda

do ser.

não me ouvirão queixar de obscura escada enrolada ao redor

da minha alma

tão deserta e desnudada na escuridão intensa em que assim

brilha

às custas de mim,

então, queria só deixar aqui um inusitado pedido:

creiam-me, sou mesmo assim

meio tonta meio louca meio despudurada na minha inocência

obscura ao final de tantos cinquenta e quatro anos de vida

decorrida

Só peço isso:

creiam-me, sou mesmo assim

e ninguém acredita.

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