a pele cola-se a si mesma, e os ossos
esfarelam-se, tão lentamente que só notaste
que já não tinhas pernas quando tentaste abri-las
o pão cola-se ao céu da boca, e os dentes
não mordem, e a carne vai-se, tão rapidamente
que não há como saber quem me olha
do outro lado do reflexo de quem não sou.
Espera-se de mim a perfeição do esquecimento:
que mais não hajam dias onde o pau corria
e a mão se levantava pesada
que mais não possa tremer do horror
do sangue pela cama pelo chão e eu só
tapando a boca
enquanto não me lembrarei de mais, e
nem tão pouco da fome e do choro cansado
de quem só queria ser uma criança
quem mais que eu quer esquecer tanto
quanto eu?
Eu; e saltam rolhas de champanhe, éclairs
de chocolate, e lá ao longe ouve-se ainda
muito ao longe a dor do amor por Deus esculturada
Eu; e uma mansa sombra se alumia
feita de mim.
Um dia assim será, lenta e parcimoniosamente lá chegarei
porque não sei
não sei
(já as cordas se arrepiam e repete-se o refrão antes de rezar
pra Nanã)
não sei quando conseguirei de vez calar essa criança triste...
Talvez, se alguém a embalasse de um longo embalo sem
cansaço, nem dedo apontado em riste.
Esquece-te
Aviso-te
Ou esquecida serás
Pois que mais não tenho como parar o incessante jorro de sangue
Insano que sempre de tua boca escorre
(às escondidas)
Não te beberei, dizes
Não te falarei, calas
não dormirei, nem comerei nem dançar dançarei
até que de tudo não sobre mais que um sorriso
de esguelha.
- nunca se pode prever a máscara da valsa
em que me mandas chamar e me dizes
cansado
deixa as mágoas para trás
deixa as mágoas para trás
- e que se incendeie o nosso nome
entrelaçado em ráfia seca
estopa velha
- e que se incendeie o vosso nome
esquinado ao nosso tão linnnnnndo tão quase sempre à beira da morte
onde vivemos no breu de apenas podermos adivinhar o quão
endemoninhada possuída possessa incorporada encorporada
estarei
numa noite
ou noutra
Adivinhas tu?
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