meio de lado

 extasia-me teu olhar sereno sem ângulos de loucura

digo

mas a palavra é ausência do sentir nada mais que

verbo

perecível

olho-te com as pupilas trespassadas de lanças

flechas

tiros de morte cega aos quais sobrevivi

e ainda assim pouco mais para dizer-te

basta-me ver-te sorrir adivinhando a comissura dos lábios

digo

cada dia que passa é mais um dia mais próximo

do sentido da vida

a morte

há-de chegar por si, com vontade de se instalar

no meu inferno

particular

por enquanto não preciso mais morrer

para que não me pegue desprevenida

não morro

mais

por enquanto


fico-me com teus olhos

que miro de esguelha

o medo de me ver refletida no teu espelho

me deixa assim

                      meio de lado.

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