tuas mãos de afeto esfregando o sal tão grosso
em minha pele que quase não existe mais
a carne que se come de dentro para fora
e vens tu lavando meu corpo
de criança velha
agora o rosto, te vira de lado
abre as pernas mas não quero ver a coisinha não
relaxa, relaxa
o último banho às mãos do amor puro
não lembro mais
anos e anos, vidas e mortes que passaram
sobre mim
e tu, espelho meu, eu, lavando minha bisavó
"oh filha! agora ainda tens que lavar esta velha"
sou a segunda velha
tão velha já com três anos de idade
e tu, talvez velha com cinco...
vejo-nos na praia
as velhas crianças... e tu, lá do fundo
rindo "Paula dentro" "Paula fora"...
rindo como a gargalhada do sol desgarrado daqui.
Talvez te assoles em asas fazendo da terra o astro rei.
Talvez assolando-te em luz ressuscites estrelas.
Vai.
Na minha pele que se esfarela ao léu
ficam as tuas mãos de menina
esfregando-me com sal grosso.
Para que mal algum me tome.
(com amor, para L.)
Comments
Post a Comment