"para relembrar o que não aconteceu" (dos confins do Guinga e do Aldir ao fundo da minha almita)


 "para relembrar o que não aconteceu"

encolho-me no canto do sofá

enquanto a luz mal espia fugindo pela janela

Queria chorar lágrimas de sangue mas já tanto chorei

de chumbo e lama

e tanta dor feita de nada a não ser tudo o que já nunca

aconteceu.

Morto o culpado das minhas tantas mortes adiadas

morto o assassino que me come as entranhas de dentro para fora

que bem se vêem as manchas estreladas

encarnadas no corpo que se vai

vai indo

indo

mais depressa do que pensava

indo

aleluia

muito mais tarde do que eu teria apreciado sem mais mal ter sofrido

que o estritamente necessário

Mas morto o matador

morro a morte morrida eu, 

só de cansaço só de tédio só de ser só na mesma sala por onde a luz

esfria

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