Este ano morri, mas no ano que vem não morro

Este ano morri, mas no ano que vem não morro

da morte com que duas vezes este ano me mataste.

Este ano, aqui matada de tuas mãos carcomidas, vos digo certa, e sabida,

a morte vem quando se espera.

E faz tempos que a respiro,

apenas suspensa num envólucro de vida

que me ofereci por tempo marcado

                      nas linhas mais puras

                                        das mãos

                     de minha mais amada

                                            criatura

em mim gerada e levitada aos céus.


Este ano, aqui morrida digo-vos que vida

pouco mais é que crianças ilhadas do mal,

que nos conforma, ao final.


Perdoe-se pois a inocência da juventude

e matem-se os inocentes,

quanto antes.

Porque chegar até aqui

como eu! Tenham dó! 

Engulo um pequeno vómito de mim e esboço um vago sorriso.

Não rias. Me diz.

Tenho a certeza que não rirei jamais nesta morte matada.

mas no ano que vem,

desta morte sombria

não morrerei.

Não no ano que vem.



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