Hoje insultaram-me,
um insulto inédito que jamais
pensei receber.
Eu que portuguesa e brasileira,
nem brasileira nem portuguesa sou,
fui apelidada, de boca cheia
FAVELADA
eu, com dois mestrados e um doutorado!
favelada?
nem os mestrados nem o doutorado
Senhores Ratos de Prateleira
me interessam nesta questão.
A mim, de calças na mão, o insólito insulto
soou-me tal qual a rosa cor-de-rosa,
que assim se despetalava em mim.
Que bom seria favelada ser!
De preferência sem fome e sem sede
mas favelada com gosto, e muito
viva por entre os becos e as ruelas.
favelada, porquê? Porque sou boa pessoa,
meio inocente meio pateta
que dá o que tem e o que não tem?
não são assim os favelados?
não dão eles o que não têm?
não lhes tiram tudo o que não têm?
não lhes roubam o pouco que sobra?
não os reduzem à sua insignificância?
Vocês, Senhores Ratos de Prateleira,
que tão bem conhecem os favelados,
(talvez mais as faveladas, coitadas)
pouco sabem de mim,
do meu desprezo mortal pelas aparências,
do meu desinteresse profundo pela V. pseudo-erudição,
e acima de tudo,
da vergonha imensa que senti quando Vos ouvi,
a Vós,
Os Últimos e mais exigentes Bastiões do respeito,
assim tão facilmente Vos desrespeitando-vos.
Mas saibam que chorei. Chorei.
Por Vós.
... Que insólito insulto ... pensei ... enquanto as calças me deslizavam pelas pernas e a saia subia e eu subindo, atrás da saia... que insólito insulto ... pensei ... enquanto me baloiçava nas cadeiras do jardim e subiam minhas pernas, favela acima... à esquerda, quem entra... favelada... gostei
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