num suspiro indelével

as folhas tão verdes tão verdes tão verdes no meio
do frio e umas saudades tuas lancinantes e
sem vontade nenhuma de te ver
e penso que gostaria de pintar
porque as letras às vezes se desenrolam tão lentas entre o meu pensar
e o frio
terrível
de gelar a língua que não
gera a palavra e eu tão cansada tão cansada tão cansada
como sempre fui
de tudo
e com o corpo cheio de querer ser
e as mãos que afagam e lavam e passam
e criam crianças que se vão
(mijam-nos as filhas)
já nem me apetece chorar
e o meu amor enlouqueceu
nas teclas da música e já se esqueceu de tudo
tão esquecido
se pudesse
não escrevia nem comia nem falava com ninguém
cantava só
e numa perfeição tal
                     que o mundo se desvaneceria de susto e fé
                      num suspiro indelével
 

Comments

  1. https://www.youtube.com/watch?v=74DE3l1kRzI se desejar ouvir o poema declamado/ if you'd like to hear an audio version.

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