Cala essa boca!

De mim meio que me geras menos gente mais megera
musgo molusco gozo dos braços do mar
deixo que me engulas em crescendo
e o vento vem
e o vento vem
rujo enquanto me reges

de mim meio que já não sou
só se suspeitando o nó no peito
o dó de peito onde sempre me reconheço
e o vento vem
e o vento vem
rujo
o lugar do furacão é o nosso
olho no olho
tua mão levantada contra a febre
em que não sei quem seja
o mar que cospe do fundo de ti
sobre o meu rosto
o meu torso
e as mãos abertas onde as ondas
pisam os nós dos dedos
inconsequentes
sem escalas
Ressoa o rujo uivo de tal brancura
que as árvores erguem seus ramos aos céus.

Em frente à estrada a floresta vem
comendo tua coxa
teu olhar ausente
e minhas mãos ocupadas em explicar
enquanto urro as nossas entranhas
marteladas dos teus dedos às minhas mais mínimas
vírgulas
soluços
impróprios rugidos de menina
e os anos nossos anos
nossos milênios de ser
noutro lugar ausente
deste
em que a floresta cresce
por te me transformar
e ser só ar
e ser só ar
me transformar em ar
na tua boca
             oca
             oca
                 
Não sei nada da ausência aparente de ti
aqui
mas o vento vem
o vento vem
e um furacão serei
na tua boca
oca

Atravessam os ratos
da floresta a estrada
e sem que de nada disso se saiba
o vento vem
ao som da tua boca
me mastiga então
faz de mim teu furacão
e a língua solta viperina mais que louca
ainda tonta
a língua solta viperina mais que louca

E as luzes pontos só de som que são
enquanto gira a palavra surda
surda
      cala essa boca
      cala essa boca
calessa
E às vezes o sol é tão brilhante
e a noite tão longa que crescem meus cabelos serenos
nas tuas mãos.
     Cala Essa Boca!

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