sussurros

encosto as palavras à boca e deixo que o sussurro
me abençoe como a única coisa certeza que tenho
que não sou dedos
nem maldade
nem morte
nem nada mais que um amor
ridículo ao qual ainda me agarro como a abelha
que hoje entrou pelo umbral da porta procurando
a reentrância onde esconder-se para a vida que a não visse
morrendo morrendo-se ali tão escondidinha no desvão
fui de mansinho com o incenso
talvez espantâ-la
para a luz lá fora
mas mais ela se aninhava
tão menina tão cansada
que só chorei
num sussurro
para não perturbá-la ali
na escondida hora da sua
morte
. como são vãs e espúrias minhas lágrimas
sussurradas
e como nem ela nem eu
somos mais que isso.

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