a semente de todo o mal

Se a luz não fosse tão audível no espaço do
que não dizeis
quão mais fácil seria a minha vida...
     Ou não
afinal anos atrás de anos fechei os ouvidos
e deixei que a cegueira fosse o meu par
    Cega dos gritos surdos caia
e caia        morro abaixo
            meu corpo aos pedaços
         mal costurado e o vómito à flor dos lábios
secos e os olhos tão cheios do que me cegava
que nem lágrimas me valer valiam
          e caia
               caia
Hoje
de pé
ouço sem medo os espaços em branco
onde vos espraiais sobre alheias pernas
         de todas as cegas gozando
             E engulo
porque não esquecer é preciso
o desaniversário divino
em que levantais levantaste minha mão
              contra o último padre no altar
            E engulo
     vosso gozo sim
para que em minha pele rasgada
se sentem com calma os silêncios vossos
      e o último dos sussurros de Deus
   que por vossas mãos de mim ria em plena missa.

Inacabados os dias
       sem linha nem agulha
           e longe do egrégio olhar
           cansa-se minha pele lanhada do tanto que ainda haverá que escutar
                                              mas ri
ri lenta insone e quase diariamente ri
      pois sabe que a perder-se só e apenas o tempo que o silêncio levar a chegar
dos vossos lábios fechados ao centro do círculo de sal
         onde meu corpo lacerado
                   seca oh deus a semente
          de todo o mal
                     
                     


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