sei que o Pessoa me admiraria agora

sei que o Pessoa me admiraria agora
tão lucidamente enganando-me mais
um ano ou três
para que algum milagre venha
ahhhh a estupidez do mesmo desejo
inútil
quando tenho provas de que quando
somos felizes a infelicidade acerca-se
só de inveja e rolando bola de gude
meio mascada
tu tira-la da boca e cola-la na dobra
dos nossos lençóis
grito tão alto que os tímpanos se fazem
trombones
e espicham-se-me os miolos para todos os lados
Pessoa teria orgulho em mim
aqui sentada
vendo-me desmiolada por entre um destino
tão absurdamente ridiculamente sempre
o mesmo
vejo-me
sinto-me
e sinceramente sei que o Sá Carneiro
fez exatamente a mesma coisa
antes de saltar pela janela

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