imundície

chegando no final do tempo em que eu era eu
chegam as sombras do que pairava
invisível sobre a chuva miúda
onde eu era a carochinha
às vezes barata imunda
mas sempre porque um raio de luz
me levitava das trevas
brilhando tão alto que nada via

foste tu
nas tuas lágrimas mais aflitas
que me disseste dos esgotos
onde lobisomem devoravas
ratas e perdidas larvas acolhidas
no centro dos corpos das mulheres
que na antecâmara da vida fingida
sabiam da imundície que a mim não me era
dada
ver

deixaste-me a mácula aberta e agora
aqui estou
no fim de mim
já aberto o esgoto
engolido o esterco
sórdido onde as varejeiras pousam
calmas
e numa tranquilidade verde tão sonora

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