seguro a golfada

seguro a golfada enquanto as vozes
se acumulam conjuntamente com os rabos
que as ratazanas distraidamente
deixam no peitoril da varanda

sem nojo do tempo reparo que não
há dó de peito que me salve
apenas a crença cega nos olhos
semicerrados dos roedores
que espreitam pelos buracos
dos vazadouros
prontos para a peleja
são milhares essas
cegas criaturas esfaimadas
e pérfidas no rancor da fome

no peitoril da minha varanda
jaz um pedaço de pão apenas
e
as vozes fedem já à pútrida bílis
encaroçada no fundo da garganta

seguro a golfada os olhos fixos
nas pupilas esgazeadas da rataria
que sorri na trégua prometida

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