o fingimento

perguntas-me se não escrevo
e eu mais ou menos digo que não
enquanto ris
e me dizes que ao invés, vivo,
mas não
mais ou menos
apenas respiro
. e vejo-te
e caminho. contigo
pelos caminhos desenhados a cimento
onde a casa se abre para as traseiras
e os figos apodrecem sobre as pedras.
perguntas-me se não escrevo
e enquanto te respondo
quase que acredito que sim
que posso ser quase inexistente
dado o facto irrefutável
que Só
não sei que faça
a não ser escrever sobre esta dor absurda
de nada ser
não haja a folha em branco.
A verdade,
é que preciso de ti
ou de alguém como tu
para fingir que não vivo
sou muito mais feliz
no fingimento.

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