Caminho das águas


Me faço água abençoada por sobre os trilhos
das nuvens esburacadas de tanto avião
que vai e vem
sem bússola que lhes ensine outro caminho
chovo depois até
ao fundo do poço
para matar tua sede
Feita já reflexo do céu
lágrima
dos desgostos de Deus
Entre esse vai e vem
me esvaio

rodopiando por tua língua
refazendo o caminho das águas
cascata de tua garganta
que se entrelaça pelos liames
da perfeição do ser

e que ao final
de mim urina faz
excremento
do soro vital
que corre
recorre se recolhe e engole
eu feita tal qual Deus
que me putrefez
à sua imagem e semelhança





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