finges dormir de cansaço como senão

finges dormir de cansaço como senão
de olhos fechados e sem contemplar
a desculpa
adormecido qual sonho já ido
de guardar meu coração
em caixinha de madre prole imensa
de paixões em desafio
não tenho
nem como me recordar quem era essa
que num dia qualquer tanto te amou
se tão louro e de olhos verdes azuis ou assim de maresia
nem teu nome posso desfiar
em orações nos meus terços dedilhando
o passo de Nossa Senhora Salvé Rainha

ah como dormes fingido sem suspeitar de fadas
estouradas nas assombrações e anjos
descaídas as asas
na noite por entre veias e tendões
distendidos no espanto de nada ver
teus olhos
que por dentro não estão
são como um rosário sem cruz

fácil é fingir que não há amanhã
mas cego que te finja não mintas
que de mim suspeito que vês a pele
tão absurdamente fina que podes contar
os ossos à flor dos dedos.
de ti, até o sono vejo e escondida
nem a mentira.

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