que a borrasca seja a boca dura

que a borrasca seja a boca dura de uma
velha pobre pobre pobre
que a tua língua se arraste até aos confins
dos páteos de sandice e lixo
em montes aos montes
com a bandeira da América em cima
não escapas destes
esconjuros que conjuro com razões
enquanto te quedas parva com as moscas
à volta da tua boca aberta
nesse dia por uma hora
apenas
pois não desperdiço meus minutos
de gozo à toa
que a parvalheira seja a condição
da multidão, tão enojada de si
que nem as moscas queiram pairar
naquele céu de merda

e eu sempre exposta
como quem anda com a alma
à pele da boca
mas ainda assim
capaz de sentir raiva
tão gigante
que a terra rode pra trás um
segundo
só para eu ser apenas
mais um acidente de percurso

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