o princípio do mundo: poema sinfónico atribuído à mística Gandhāra

embaralho meus pelos nas notas de Mahler
e em cada linha da partitura meus poros
arrepiados seguem o caminho do teu escutar
esqueço tudo o que alguma vez disse sonhei
ou soube para me refazer em quatro
movimentos. De uma marcha fúnebre
sem fim me vejo renascer
e chegada ainda viva
do inferno ao inferno
em versos octossílabicos
seguidos do mesmo
estribilho
pianíssimo me sussurras no ouvido
enquanto segues dirigindo a orquestra
allegro furioso
me abrindo num lá em sete oitavas
rimando intercalado
a cada três versos
a que me enlaças
dizendo
Volta
e o mesmo estribilho
sete oitavas
pianíssimo e teus dentes já lacerando
minhas costas
para que para lá da orquestra
não ressoe um pé
e nem se
calem as oitenta vozes
que de mim se erguem
em contraltos baixos e sopranos
reescrevendo a história do mundo.

Nem tudo está nos livros
mas misticamente me hei de reescrever
qual Titan em poesia estrófica
de tal modo cósmica
que ao leve balançar de uma batuta
se tragam arianos e árabes ao mesmo lugar
o princípio do mundo
e nada menos,
se há de revelar.


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