febre

do raio de sol subitamente o gancho
que descerá até ao chão de azulejos
velhos, quebradiços como os ossos de
minha avó
que impudente ria daquele gancho
meio branco meio luz meia amarela
febre que de perto ou longe te há de
infetar
e somente ratos as vísceras te desejem
de tua boca não sairão mais que
fétidos disfonicos timbres
que algum dia terão sido outra coisa
mas ainda assim já putrefacta
fantasia de porca e abjeta criatura
a quem o rei do boi bumbá me(n)tia
propondo-se salvá-la das garras do mal
mas quem tem garras nessa coisa
não toca
lastimável rei
de quem até o boi bumbá fugiu
incomodado
com tanto malsonante ranço
já alcançando campos e rios ao redor
Minha avó
teria rido
enquanto a navalha estripasse tais ranços
poupando-nos de tão fétidos hinos
de tua garganta purulenta
E porque assim são meus desígnios
assim Será entre a luz meio amarela
que já sobre o rei que queria ser
também se alastra
domingo pela manhã

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