Escrevo

Escrevo
porque é certo padecer em poesia
que assim aos sonetos tortos
se faz menos vida
e mais alguma coisa
que uma doida
no ápice da agonia
repetisse até à exaustão.
Perdoa pois
esta cansada antologia de mim
que escrevo como se verdade fosse
o pássaro a candura a alva alma
minha perdida na paixão,
mas febril falo alto e vil
e efêmera
quebro os candelabros da Igreja
feita palco de tão absurda dor
que com certeza não é.
Quão mais linda seria
a tua amiga
se resignada e séria
me acalentasse uma oração
e morresse
no dia 1 de Julho
como previsto
pelas dez e meia da manhã
em frente ao corpo de Cristo.
Mas não,
escrevo ainda.

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