da crueldade do poema

na enxurrada da largada das palavras dos outros
poucos
que como nós entram em combustão interna
estourando todas as artérias
(por esse monstro inaudito
que nos pede fidelidade eterna)
já me contorso das sílabas gémeas sibilinas
jorradas por seres tão exíguos
como eu
que escrevem porque o sangue é sempre parco
e a palavra a pedra em bocas afiada
com que cortamos os pulsos linha a linha
a cada vez provando
por A mais B
que só o poema é demasiado cruel


Comments