a lua e o milho

Te vejo trevas por dentro a escuridão
do sorriso sem réstia de dó
me perco sonho e sentido
no aconchego do ré e do sol
me afastas do peito o sonho
esgravatas lua ao revés no lençol
acordo nauseabunda
chegas a mim vomitando
as contas do missal
que transmutaste em escremento 
meu medo sepulcral
formigas do centro da terra
te atacam ligeiras então
e é dessa raiva inaudita
contida em campos de milho
que cresço espantalho
e esbracejo o coalho da lua tão agra
no velho colchão

Me ergo dançando flamenco
e já castanholas
rasgando o semblante que é teu
viés avesso dos corvos
que não arrasam o milharal
escondo a carcassa fedida
que ainda verte dos meus olhos
ressequidos ao sol no varal do quintal

e canto secas entranhas
elevando o sabugo aos céus
determinando zoada já estilhaçando
em ais pútridos tua liturgia final:
Ais desandarão o templo
vaticino eu Profeta meus braços em cruz
abençoando merecimentos
e meu espantalho dançando flamenco
sem medo reluz ao sol que te serve de sustento.



Comments