o fedor

entre a cascata e o esgoto cheio das vísceras
que encontrei no meio do teu peito
descubro que escolhi a água podre
pronta por meio das tuas mãos moles
sapos que arrulhavam no fim do mercado
na praça suja por onde me meti
à caça de fruta fresca vestida de jasmim
eu tão longa e nua no algodão doce
da minha longa camisa de dormir
onde me engano que sou minha avó
e que me amo
Entre a cascata rolando gloriosa
por trás das montanhas
que subi a pulso
encontrei tuas vísceras boiando
entranhas cheias de bicho
que quase esgotaste dentro de mim
eu tão amante que fazia o que sempre fiz
me vomitando para que a fome não te alcançasse
e já tudo acabado na podridão do teu corpo
desleixado e eu ainda
me desmanchando pingo
de creme de leite de doce de côco
que engolias a rojo como se eu fosse me acabar
na tua boca
Eu tão longa e nua que me suspirava
e sumia defumada lentamente
princesa dormente urna de cristal
que no final dos finais não há quem acorde
pois minha avó me espera
e aqui é só o fedor do que chamas
amor


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