tens a certeza que não nos queres?

tens a certeza que não nos queres?
conquanto o silêncio seja eloquente
o teu corpo - nos raros momentos em que
de último
bate à minha porta
fala em brados gestos transcendentes
que nenhuma língua explica
e que qualquer língua expele
seja em cuspo
seja em memória
de dentes quase raspando quase escarrando
a última fricativa
e digo-te tudo isto
de cadeirinha
já que o meu corpo
de último
asfixiado
quando de graça te imagina
à minha porta
ganha a iniciativa
redime-me da falta de ar
e faz-se meu tubo vocal.
Pergunto-te outra vez, para que não tenhas dúvidas,
tens a certeza que não nos queres?
é que a cada dia
que passa
vamos perdendo
mais uma palavra

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