imploro-te

é tão tarde amor, já devem ter caído os pilares da casa
e com certeza que o telhado se afundou sem som
por entre a vizinhança seca e muda onde apenas
o martelo ecoa
e os pregos se apregoam materiais viventes
sobras das chagas em que nos empalas

cinquenta anos passados sobre o desastre
em que me ergui
qual cruz na Quaresma esperando-te com tanta calma
imploro-te
é tão tarde amor, e se assim te lo digo
à guisa de gemido
é
porque ontem
assim, de repente,
por entre os teus dentes na minha pele rasgada
haja canivete haja faca

percebi. que querias ouvir-me. assim

meio implorando meio arrastada
meio choro meio medo de tão sabida porrada

é tarde amor
porque não caiu ainda a casa?

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