subindo a Rua do Carmo

a rua estreita e longa, suas pernas compridas se estendendo
em direçāo a mim
avançando lenta
esperando chegar no fulcro do seu passar
e me sento sorrindo e a rua murmura me escuta
e me ri oferecendo-me o ar a luz e seu cantar
meio arquejante que me chama para ficar
Ajeito meu corpo dolorido entre a calçada de pedra
e as paredes de cimento
e tento dormir muito embora queira apenas
escutar-te mas tu minha rua do meu caminhar
precisas também descansar
e sussurro de mim para mim
na verdade sem querer dormir
mas apenas me apagar
por entre tua voz teu linguajar
que me reconhece sua e outra.
Me viro, reviro, revolteio e me irrito
meu corpo doído sem me apaziguar
e
te
olho te miro de viés apenas
e antes que possa insistir nesse fingido repousar
teus olhos pequenos
de cores que nāo posso precisar me alcançam balançam
e vejo as asas dessa rua longa, de céu a pique
se estenderem fofas penas de pombas e outros tantos pássaros
de tantos lugares
me ajeitando junto a si
aninhando meu corpo
convidando meu longo pescoço até que posso escutar
o pulsar
o compasso sereno do teu peito
em que me deito
e choro
lágrimas quentes e poucas
de um amor rouco
feito apenas do teu cuidar
teus braços cheios do teu amar
de casacos de inverno
meninas meninas e outras meninas
que seguem no teu caminhar
E eu
repouso
finalmente gente
somente presente nas asas que me ofereces
presente do céu ou do teu peito a palpitar.

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