Digo o teu nome, resposta a Mia Couto (talvez)

Digo o teu nome
sílaba a sílaba
como achas que me queimam a boca
cinzas que brilham
na escuridāo do dia
enquanto os meus cabelos
se aquietam
Para ti
à medida diária
em que cresces em mim
fogueira que alimento
sem pau nem madeira
um altar sem lugar
nem tempo ou cantar
Digo o teu nome
para a minha boca apenas
e dentro de mim
te recolho escolho
dos meus dias feridos
tesouro dos meus longos
sonhos nocturnos perdidos
porque a minha boca insana
espelha a saliva e a terna esperanca
E porque morri ontem
ainda antes de chegar
invento
outra forma de navegar
outro lugar onde voar
pássaro esperança de um cais onde atracar
na humidade do cerne do meu falar
Digo o teu nome
como se me fosses alagar
e eu um rio pronta a desaguar

e isto, tudo isto, para que me reconheças
e te atrevas ao leve sobressalto
de suavemente escutar
o teu nome
na minha boca

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