de moto próprio

do fundo do Rio estende-se o breu que grita como
se amanhã fosse ontem e nem os peixes
fossem cordames navalhas e homens do fim
do mundo
grito-me as correntes do oceano absurdo
onde saltava nas ondinhas
fingindo que era menina
quando me afogava lenta e quieta
sentada na areia enrodilhados meus cabelos
na espuma das sereias que nunca vi
mas cujo canto permanece intacto
no marulhar antigo vozes de gente
que nunca soube da aflição de respirar
mas apenas da morte
como se esse fosse o derradeiro horror
e não a paz
que invento
à falta do que me aquietar
por entre a neve e o silêncio das paredes
onde me empalo
de moto próprio.

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