Sombras

A minha alma clara, emagrecida da dieta dos dias
enreda-se no fio invisível que me liga aos animais
e busca a luz por entre o breu dos meus sussurrantes móveis
mobiliário de família que se escusou à monarquia
elo da única vida que lembro por entre réstias de sol,
arrastões de sombra, e meus aguados papagaios paraenses
que há muito perderam a fala e o siso.
Viro-me para ti, sombra de Cupido, manjar dos deuses
suplicantes e esquecidos
que se me ofereces à esquina, à guisa de esmola
esmaecida a tez na persistente negação do peito
apesar das mãos trementes
suspeita obscura da carne
livre do riso
e ainda assim cheia
de plebeias ideias
rotundas e infindáveis loucuras
porque suspiro, baixinho
por entre o fio de luz
que me liga aos animais.
Alma de palavra
a ti me entrego
em bandeja alta
fortuito fausto de teus sonetos
fodidos.

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