Só agora

Só agora

Só agora posso voltar aqui
através de um amor guardado em prateleiras escurecidas
de uma outra vida
em que me esquecera que era assim
foi preciso ver-te ali
as mãos finas e pequenas, tão pequenas como nunca vi
nunca tinha visto mãos assim
ingénuas e crentes
numa cara tão séria num olhar tão perto
num amor de ímpeto que reconheci
de súbito
ao te ler longe de mim em letras de um amor
lindo
corrente
fluido como as águas que durante todos estes anos
nos separaram de nós
nos uniram em nós
nos ligaram mães e filhas e filhas
e laços de sangue evanescentes em que reconhecemos
genes de gémeas puras jamais reconhecíveis em mães
que ainda não viram
jamais verão
os lugares onde cruzamos todas as nossas linhas
as linhas das palmas das nossas mãos
das minhas mãos
longas
impossivelmente longas
compridas
aranhas de dedos e mãos que se estendem sobre ti
sobre o teu corpo gentil
as tuas mãos de criança
os teus cabelos negros
como os meus
escondidos debaixo da mancha de um futuro sol
onde me abrigarei
contigo
em ti
semtigo
sempre contigo
das tempestades ainda não vindas
mas que chegarão
cruzando as linhas das nossas mãos
Benditas.


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