começa aquela agonia de garganta apertada

começa aquela agonia de garganta apertada
e as paredes a céu aberto como gaiolas
de pássaros cegos
não sei se sangro ainda, tudo o mais corre seco
pelas mesmas auto-estradas, as mesmas lojas,
a mesma gente educadamente malcriada
e quero correr nua até ao Grand Canyon
enquanto o meu corpo ainda não causa nojo
na geral
não sei se vos diga que dia após dia fedo
um cadáver mais ou menos descomposto
o meu, nesta rotina em que não sei se me mato
se me desmato porque há anos a esta parte que não reconheço
as carnes, os traços, os desejos de ser vida sobrevida mais do que vivida
adiantada até
mas não há como mexer-me daqui, as pernas enraizadas nos cântaros de amores perfeitos
com que esta gente engana meio mundo e o outro
não saibam da américa do norte, peço-vos
é uma peçonha a amérdica do norte, digo
enquanto o cuspo me sobe pela garganta
aberta onde o ar não entra
e desnuda bóio em minha saliva, resquícios de mim.
começa aquela agonia de garganta apertada...
começa aquela agonia de garganta apertada...
...
...
alguma coisa começa ainda.
Que lindo poema de natal!

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