pôr do sol

espero pelo pôr-do-sol
como se põe
pelos teus olhos
o nosso guardei-o
nos escaninhos do leite
derramado
espero de novo pelo
teu pôr-do-sol
pois que daqui
não se vê sol
nem tanto a lua
apenas a secura
da aventura dos
sacanas
assassinos
da terra dos índios
amor
manda-me o pôr-do-sol!
só p'ra me lembrar
p'ra anunciar
e tornar público
nos jornais diários
que onde se nasce
fica o peito a alma
a altura mais alta
do gosto
quase ruivo
quase marrom
quase louro
que onde se nasce
ficas tu
que de onde se nasce
não se parte
senão para a morte
de qualquer coisa
que não o amor
o amor insano
vão inútil
incandescente
capaz de me dar vida
a mim
eu
que já tantas vezes morri
por esse pôr do sol
me ressuscitarei inteira
mais uma vez
mais outra vez
apenas e apenas
para poder um dia
finalmente
acabar-me nos teus olhos
em mim
postos

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