Palavras de carne e osso

conheço-te de longe, o ondular do teu andar qual mar
reconheço-te os cabelos das ondas onde mergulho
incontáveis mergulhos de onde re-emerjo sereia
sorriso de um ano de olhos fechados
em que de manhã me acordavas
debaixo das águas límpidas e quase tão frias
da piscina natural onde te vi nadar como virgens meus olhos
teu corpo humano desejo apenas de me orgulhar de ver-te
nadar
sempre
e levantar teu rosto aberto em direcção a mim
eu que te espero sempre do outro lado do sonho
metade gente metade urso
pois que hiberno por um ano
e por um ano me esqueço que sou
nos teus abraços de mar.
E te guardo.
Nos olhos húmidos da minha quase noite te passeias
até que eu não queira acordar porque o dia não és tu
e dias infindos são
...até que te vejo carne e água e cabelos e algas e desejos
e um peito cheio de palavras douradas e azuis que me fazem sorrir
cheia de peixes
e por um dia pelo menos por um dia de um só ano recebo de viés
o amor que nos demos e de viés não durmo
porque já é areia cana de pesca e mar
e a tua mão leve sobre meu ventre
meus dedos pássaros em teus braços e a certeza de que sim!
E guardo todas as águas e amadas algas e dedos de onde te farei
carne e osso imprimido a negro
em água e pasta de madeira e te farei eterno
letra palavra a eternidade de um amor sem tempo
eterno como para mais ninguém
pois que sem tempo nem espaço te amo
e amarei
como não amam meninas mas sereias
sim

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