De peixes e alados cavalos

Rasguei dezenas de cartas
galguei milhares de quilómetros
atravessei céu e mar
apenas para te encontrar
sentado no degrau errado
da única escada que eu não subira.
Alcançar-te para lá da escada
fora das cartas das estradas
dos oceanos de tempo e
das políticas mesquinhas
consignadas pela pele olhos
músculos e cabelos.
Deixar que me alcances
quando frente a ti
apenas meu rabo alado
roçando teu rosto.
Rasgarei calendários
destruirei estradas
e com meus cascos
levantarei o pó do tempo
até que de novo vôo
meu rabo alado
roçando teu rosto
crina descendo sobre os olhos
e tu
outro.
Atravesso de volta contra o tempo
na potência da esperança de não morrer
jamais a cada ano que vem
e de que cada ano sejam três meses
e que tu me envies aéreos corações
de propulsão amorosa
embrulhados em redes de pescador
e sorrisos de homem feito
fazendo-se ao mar sem medo.
Atravessarei o tempo sentada
nessa mesma rede
e saberás do amor.

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