entre dedos

até ontem o medo de te tocar
era tão real quanto a porta
que bate no final do dia
quando chega a estrada
e eu nem sei que horas são
até ontem minhas mãos
erguiam-se meio hirtas
meio mortas entre o desejo
da porta
e a chegada do final do dia
hoje te olho deitado
no fim do chão
entre o tempo que passa
e a minha própria solidão
e meus dedos
alongadas hastes
bicos de flamingos
suspensos
na cor mansa maranhão
de gansos e de penas que
se evolam no sonho
do teu corpo
que dorme na mais perfeita inanição
e se alongam,
meus dedos,
um terço de tuas mãos.

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