és só eu mesma

mea culpa mea culpa mea sola culpa

adoro a santa Madre Igreja que me livra de todos os pecados

mas não me absolve de mim

não tenho para onde ir

até as línguas me faltam

no sé si hablo español

est le français c'est tout a fait pathétique

não faço ideia de quem me guardo eu

não há maneira de afogar a criancinha que geme a noite inteira

Estou velha, mas já era muito velha

com vinte e seis anos. Como a Marguerite Duras e não, não me estou 

a comparar. Foi só uma lembrança. 

Agora estou mesmo muito velha, os meus ossos desfazem-se como pó

de duros tão duros tão petrificados no horror de si que ficaram estes anos

sem poder dançar

nunca mais dancei

não é culpa de ninguém

estou tão triste e outros dias enrodilho-me no meu marido e estou tão feliz

mas como sempre como sempre aqui estou meio rota meio bêbada meio tão e tanto

e tão profundamente lúcida que não há como fugir

sou o monstro que me come, não a ti, mas a mim

mesma

tu és só o espelho de mim

o Olímpico da Macabéa

a Hora da Estrela

és a minha hora da estrela.

És eu mesma, em carne e osso de homem,

grande, intenso, pleno, surdo, rasgado no meio

do ventre

e tão alto que me apagas todas as escuridões quando de mim já não sou

Desculpo-me, ou não? E se me desculpar que diferença fará neste mundo

onde me espelho de mim tão longe, alheada, fugitiva...entendi, finalmente

creio que sim

és só eu mesma.

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