um barco abandonado

a ironia de que venha de mim
para ti o pouco tempo que te pedi
e do qual fizeste promissória
em triplo e
sem assinatura em baixo.
silêncio e tempo.
que eu espere
por quem não ficou
no cais
quando as ondas iam e vinham
e do barco era certa a vinda
a não ser que tormenta
lhe acabasse a vida
ainda assim
digo-te que sim
e ofereço-te o presente que te pedi.
apenas para te provar
que estou aqui
e que no devir dos dados
a ausência que me imputaste
nunca foi míngua
delito
ou mágoa
mas apenas o horário das partidas e
das chegadas
que não alcançavas
do topo da previsão da falha.
que como tal
se verificou
em alta.
Maior ironia seria ainda
se no rolar dos mesmos dados
me disseres que sabes que não estarei aqui
apenas porque preves o mesmo desfecho
com que vejo o barco
no horizonte parco
perder a vela
o prumo
e a bússula
que se te aponta
no minuto em que chegas a mim

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